A Margem Longínqua






Anseio por ir até à outra margem do rio.
     Onde os barcos alinhados estão amarrados às varas de bambú;
     Onde os homens atravessam os seus barcos de manhã com
arados nos ombros para lavrar campos distantes;
     Onde os vaqueiros fazem o seu gado nadar baixo até à
pastagem ribeirinha;
     De onde todos voltam para casa à noite, deixando o
chacais a uivar na ilha coberta de ervas daninhas.
     Mãe, se não te importas, gostaria de ser o barqueiro
da balsa quando crescer.
     Dizem que existem estranhos lagos escondidos atrás dessa  
margem alta.
     De onde vêm os bandos de patos selvagens quando as chuvas
acabam, e os juncos grossos crescem em volta das margens onde
as aves aquáticas põem os ovos;
     Onde as narcejas com as suas caudas dançantes imprimem
as pequenas pegadas na lama limpa e macia;
     Onde à noite as ervas altas cristadas de brancas flores
convidam o raio da lua a flutuar sobre as ondas.
     Mãe, se não te importas, gostaria de ser o barqueiro
da balsa quando crescer.
     Vou cruzar e regressar de margem em margem, e todos os
rapazes e raparigas da vila, ao banharem-se, vêm admirar-me.
     Quando o sol nasce no meio do céu e a manhã passa o meio-dia,
irei a correr para ti, dizendo: "Mãe, tenho fome".
     Quando o dia finda e as sombras se ocultam sob as árvores,
na poeira regressarei.
     Nunca te abandonarei como o pai para trabalhar na cidade. 
     Mãe, se não te importas, gostaria de ser o barqueiro
da balsa quando crescer.

  
Rabindranath Tagore - 215 poems
Classic Poetry Series - PoemHunter.Com 
The World's Poetry Archive, 2012.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa