Senhor da Minha Vida






Tu que és o Espírito mais íntimo do meu ser,
estás satisfeito, Senhor da minha Vida?
Pois te entrego o meu cálice cheio de toda
a dor e o deleite a que se renderam
a uvas esmagadas do meu coração;
Teci com ritmo de cores e canções a manta para a tua cama,
E com o ouro derretido dos meus desejos
Fabriquei brinquedos para a passagem das tuas horas.
Não sei porque me escolheste como companheiro,
Senhor da minha Vida.

Não armazenaste os meus dias e noites,
os meus feitos e sonhos pela alquimia da tua arte,
e enlaçaste no grilhão da tua música as minhas canções outonais
e primaveris,
e colheste as flores dos meus maduros momentos para a tua coroa?

Vejo que os teus olhos fixam a escuridão do meu coração,
Senhor da minha Vida,
Pergunto-me se o meu fracasso e erros são perdoados.
Porque muitos foram os meus dias sem Te servir
e as noites de esquecimento; fúteis foram as flores
que murcharam na sombra e sem oferenda ficaram.

Muitas vezes as cordas tensas do meu alaúde afrouxaram
nas melodias das tuas músicas.
E muitas vezes na ruína das horas perdidas,
as minhas desoladas noites de lágrimas se cobriram.

Mas será que os meus dias chegaram ao fim,
Senhor da minha Vida, quando os meus braços 
te envolvem moles, e falsos são os meus beijos?
Então põe fim ao encontro deste lânguido dia!
Renova em mim o velho em novas formas de deleite;
e deixa que as núpcias regressem
em nova celebração da vida.




Rabindranath Tagore - 215 poems
Classic Poetry Series - PoemHunter.Com 
The World's Poetry Archive, 2012.
Versão Portuguesa © Luísa Vinuesa